Oficialmente em Lages existem 21 imóveis tombados como patrimônio histórico, sendo quatro pela municipalidade, via Fundação Cultural de Lages (FCL), e 17 pela Fundação Catarinense de Cultura (FCC). Outros 12 pontos são protegidos pela Lei Orgânica do município. Alguns imóveis como a Catedral Diocesana, prédio da prefeitura, Igreja Presbiteriana, Convento e igreja São José, antigo Fórum Nereu Ramos e grupo escolar Vidal Ramos, aparecem tanto na lista de protegidos da lei orgânica, como na de tombados pela FCC.
Mas na prática três patrimônios já não existem mais, são o Sobrado Belizário Ramos, localizado na rua Nereu Ramos que ruiu, o colégio Arístiliano Ramos que ficava na praça João Costa e que depois de uma longa batalha judicial, foi demolido para as obras de reurbanização da praça, também conhecida como Calçadão João Costa.
E por fim, o carvalho que estava plantado na esquina das ruas Vidal Ramos com a Caetano Vieira da Costa, inclusive havia sido retirado em 2004 da lista de proteção da Lei Orgânica municipal. “Foi iniciado o projeto para o tombamento do prédio da galeria Dr. Accácio, localizado na esquina do Calçadão João Costa com a rua Coronel Córdova, mas o processo está suspenso”, informa o coordenador de Patrimônio da FCL, Celso Cruz.
Exceto o sobrado Belizário Ramos que ruiu, são tombados pelo município o Parque Jonas Ramos (Tanque), o Cine Teatro Marajoara, na rua Nereu Ramos, e o Passo de Santa Vitória na Coxilha Rica. Protegidos pela Lei orgânica existem a Catedral Diocesana, o Mercado Público municipal, colégio Vidal Ramos, antigo Fórum, prédio da prefeitura, Igreja São José, prédio da fazenda Experimental de Lages (Empasc), Cacimba, antiga Cúria Diocesana e igreja Presbiteriana.
Já na lista de patrimônios tombados pela FCC, estão entre outros o palacete Gamborgi situado na rua Marechal Deodoro número 135; edificações localizadas nos números, 40, 28 e 16 da praça João Ribeiro; conjunto de casas localizada na rua Benjamin Constant, nº 96, 98 e 96J; edificação na esquina das ruas Cel. Cordova e Quintino Bocaiúva (Casa União); colégio Santa Rosa; casa na rua Correia Pinto nº 49; cine teatro Tamoio e a Fazenda do Cajuru, que é o único imóvel fora do perímetro urbano de Lages.
Arquitetos e especialistas em preservação de edificações chamam atenção para a diversidade de estilos arquitetônicos existente em Lages, demonstrando claramente as várias fases de desenvolvimento econômico pelas quais o município passou. “Em Lages temos uma diversidade de edificações de linguagens e de estilos arquitetônicos, de épocas diferentes e isso é incrível”, sentencia a professora dos cursos de Arquitetura e Urbanismo da Facvest e da Uniplac, Lilian Louise Fabre Santos.
Ela constata e lamenta que nos últimos anos, muitos dos imóveis que retratavam as várias fases arquitetônicas da cidade, estão sendo demolidas. “As nossas casas de Lages, estão sendo substituídas por terrenos vazios, tínhamos casas do período colonial que foram substituídas no ciclo da madeira por uma arquitetura art déco, que era uma arquitetura muito mais moderna, como a arquitetura de cinema e tudo mais. Já passamos por esse processo do centro mudar sua cara, mas ele foi substituído por outra coisa, o que eu acho triste na atualidade é que está sendo substituído por vazio ou por estacionamento, ou assim prédios de fachada espelhada que não dizem nada”.
Patrimônio histórico, cultural e arquitetônico, o Casarão Juca Antunes é datado de 1850 e está localizado no cruzamento das ruas Benjamin Constant e Coronel Córdova. Foi residência de Coronel Córdova e adquirida pelo também coronel e vereador José Antunes Lima, o Juca Antunes. Ao longo do tempo, a edificação foi utilizada para diversas finalidades desde moradia até ponto comercial.
No ano de 2017, o arquiteto lageano Lurian Furtado Anselmo foi contratado pela CTG para a elaboração do projeto de restauração, que foi aprovado pela Fundação Catarinense de Cultura (FCC) em 2018. A partir desta etapa, outra empresa lageana foi escolhida para o processo de restauração, e em 2019 a Terra Engenharia inicia os trabalhos de restauro. Para isso acontecer, foi realizada uma pesquisa pela Fundação Cultural de Lages, através do Museu Histórico Thiago de Castro, com o apoio do professor e autor do livro “A Casa do Planalto Catarinense”, Fabiano Teixeira dos Santos.
Com as obras já concluídas em outubro deve se efetivar o repasse oficial do imóvel para a prefeitura. De acordo com o Coordenador de Difusão Cultural da FCL, Fabrício Hasse Furtado, num primeiro momento o local abrigará exposições e mostras culturais. “Num primeiro momento vamos utilizar o espaço para divulgar a arte e o artesanato regional, realizando exposições no local”, explica Fabrício Furtado. “Devido a este período de isolamento social imposto pela pandemia do Covid-19, pouco podemos fazer”, completa.
Para iniciar o processo de restauração do Casarão Juca Antunes o primeiro passo foi realizar um mapeamento do seu estado de conservação. A arquiteta Bruna Tratz, que atuou nesta etapa lembra que foram muitas as dificuldades. “Como ele estava num estágio avançado de ruína, já estava com parte do telhado desmontado, as paredes já estavam bastante debilitadas, tivemos dificuldade até de acesso para fazer todo esse levantamento e identificar os pontos mais danificados”, lembra. “Foi um desafio bem grande de levantar todos os danos que existiam”.
Responsável direto pelo processo de restauração, o arquiteto Lurian Furtado Anselmo, reconhece ter sido um de seus maiores desafios profissionais que enfrentou, em compensação, conseguiu um resultado bem próximo do que era o prédio quando foi construído. “Fizemos tudo como a cartilha manda, é um projeto bastante demorado, porque é um projeto completamente diferente, são mapeamentos de danos, mapeamos tudo certinho, achamos as técnicas mais originais desse Casarão”, garante.
“Hoje o Casarão Juca Antunes é considerado a casa mais original, no meio urbano, de estilo luso brasileiro, que por sua vez é um dos primeiros estilos a se iniciar no país”, relata Lurian. Ele conta que em alguns pontos houve a necessidade de adaptações, pois não foi possível conseguir materiais da época, 1850.
O arquiteto ressalta ainda que ao longo dos anos o imóvel sofreu muitas modificações em seu projeto inicial para atender as diversas utilizações que passou. “O casarão serviu para vários propósitos, desde a casa do coronel, foi junta militar, foi mercadinho, temos relatos que ela chegou a ser consultório de dentista, imobiliária, então ela foi várias salas comerciais e com isso foram acontecendo modificações dentro dela”, diz ressaltando que o local, em meados de 1950/1960, foi um motel.
Por conta de todas estas modificações o arquiteto diz que o casarão conta muita história. “Modificações na parte interna feitas, paredes que foram todas erguidas, refeitas e erguidas de tijolinho que não era da época, mas foram, assim que a obra foi evoluindo os métodos construtivos brasileiros o Casarão foi juntando, hoje ele é uma marca de evolução da arquitetura brasileira também”.
Por conta desta diversidade de edificações e de estilos arquitetônicos, de épocas diferentes, Lilian Fabre diz que a história é contada. “Conseguimos entender toda a história do Brasil, sou professora de Arquitetura Brasileira na Uniplac, e dando uma volta no centro eu consigo mostrar para os meus alunos edifícios do período colonial, depois do eclético, art déco, modernismo, é como se fosse essa linha do tempo, tem tudo em Lages, isso é muito interessante”.
Ela constata e lamenta que nos últimos anos, muitos dos imóveis que retratavam as várias fases arquitetônicas da cidade, estão sendo demolidas. “As nossas casas de Lages, estão sendo substituídas por terrenos vazios, tínhamos casas do período colonial que foram substituídas no ciclo da madeira por uma arquitetura art déco, que era uma arquitetura muito mais moderna, como a arquitetura de cinema e tudo mais. Já passamos por esse processo do centro mudar sua cara, mas ele foi substituído por outra coisa, o que eu acho triste na atualidade é que está sendo substituído por vazio ou por estacionamento, ou assim prédios de fachada espelhada que não dizem nada”.