A arte e cultura de Lages em monumento e pintura no novo Parque Jonas Ramos

Por Luiz Del Moura

As obras de revitalização do Parque Jonas Ramos (Tanque) seguem o cronograma de execução do projeto arquitetônico. A Prefeitura de Lages, por meio das Secretarias Municipais competentes, conta com diversas frentes de trabalho no canteiro de obras, além dos serviços realizados pela empresa responsável, vencedora de licitação. Os recursos financeiros para a revitalização deste importante espaço público da cidade são de emenda parlamentar da deputada federal Carmen Zanotto e recursos próprios da Prefeitura de Lages.

Atualmente o local recebe os acabamentos do processo de manutenção e restauro do monumento às Lavadeiras pelo artista José Cristóvão Batista e reprodução de lugares históricos de Lages nas paredes da Biblioteca Municipal pela artista visual e muralista Pati Spindler.

Inaugurado em junho de 2008, o monumento às Lavadeiras resgata a história dos anos iniciais da formação da Vila e cidade de Lages pelo seu fundador António Correia Pinto de Macedo, que segundo algumas vertentes históricas, o local teria sido escolhido para o trabalho das mulheres para a limpeza de vestimentas e outros.

Segundo Batista, em 2008 a Prefeitura de Lages o chamou para a concepção e execução de uma obra de resgate histórico do Tanque. O artista, nascido em Ituporanga, veio aos 12 anos de idade para Lages, e aos 14 iniciou sua vida artística nas artes fazendo seu primeiro trabalho com pequenas esculturas de madeira. “A partir daí fui me adaptando conforme as necessidades, aprendendo tudo sozinho até que passei a trabalhar com a argila. Minha primeira obra em concreto foi por volta de 1993 em Barra Velha, litoral de Santa Catarina. Acredito que já tenho umas 60 esculturas espalhadas pelo nosso estado, no Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo e Goiás”, lembra.

Batista diz que os monumentos como o das Lavadeiras, por exemplo, fazem parte do contexto histórico do Caminho das Tropas. “Uma das fontes mais importantes foi o Continente das Lagens, do Licurgo Costa”.

Obra redescobriu fonte d’água

Apesar do orgulho da obra e a responsabilidade do restauro, o escultor ressalta que talvez, tão significativo quanto o monumento, uma descoberta nas obras de 2008 trouxe de volta um item importante ao Tanque. “A água que vemos escorrendo aqui é a água original do local. Descobrimos na época junto com a Prefeitura que a construção de um empreendimento estava obstruindo a passagem da água para o Tanque, e então solucionamos o problema e o monumento e o tanque são abastecidos com a famosa água lageana. Basta ver os passarinhos pousando aqui no monumento para bebê-la”.

Para o restauro, o artista iniciou com a lavação do local, taipas e pedras e das esculturas que foram também lixadas e passaram pelo processo de impermeabilização nos locais trincados e com infiltrações. Partes quebradas pelo tempo ou ação dos vândalos foram refeitas e nova pintura preventiva. “A pintura das esculturas utilizei uma técnica minha que mistura betuminosa com pigmentos. É uma tinta que acaba formando um aspecto de bronze bem característico”, conta.

A história pode preservar os monumentos

Batista diz que realiza palestras e oficinas nas escolas com o objetivo de despertar o conhecimento da cultura da cidade nas crianças. “Acredito que um povo que conhece a sua própria origem, respeita mais as suas coisas, não depreda e não estraga”.

Sobre a história de que Correia Pinto teria dado ordens para que seguranças protegessem as lavadeiras de ataques de indígenas, Batista não concorda. “Os indígenas são nossa verdadeira origem, estavam aqui muito antes de Correia Pinto. Acho que o folclore inclui essa parte na história, mas acredito que não era bem assim e devemos valorizar a história dos povos originários”, comenta.

Símbolos históricos nas paredes da Biblioteca Carlos Dorval de Macedo

A Biblioteca Pública Municipal Carlos Dorval de Macedo atualmente é um dos equipamentos culturais de Lages administrada pela Prefeitura de Lages, por meio da Fundação Cultural (FCL). Uma das etapas do processo de revitalização do Parque Jonas Ramos, é a recuperação da fachada da biblioteca. Pati Spindler tem sido a responsável pela arte que tem chamado a atenção dos visitantes do Tanque e dos leitores e pesquisadores que utilizam o acervo do local.

A artista lageana descobriu seus dons artísticos há pouco tempo ao morar em Londres entre 2016 e 2019. “Começou como um hobby em alguns bairros de Londres onde se pratica muito o grafite. Iniciei treinando lá, e ao voltar para o Brasil decidi transformar esse conhecimento em profissão desde o início de 2021”, conta a artista.

Patrícia Guedes Spindler, artisticamente Pati Spindler identifica a sua primeira criação de arte em um trabalho em spray em um mural realizado em Londres no bairro de Shoreditch.

A arte desenvolvida nas laterais da Biblioteca foi planejada junto a Prefeitura que aprovou a concepção. A primeira parte está quase finalizada e mostra a cultura lageana. A inspiração da artista está baseada na Coxilha Rica e seus lugares únicos. “Na lateral vemos o Caminho das Tropas, o tropeiro e as mulas, os pinheiros, a Igreja dos Morrinhos e o trilho do trem. Para a outra lateral da biblioteca, vou mostrar a área mais urbana da cidade. A Catedral e o Morro da Cruz serão representados”, conta.

Pati diz que a pesquisa foi intensa, não somente todos os capítulos históricos da cidade, formação da Vila, os Tropeiros, mas a arquitetura lageana, Art déco, por exemplo, foi bem estudada para a criação da arte.

“Por estar em um local tão simbólico como o Parque Jonas Ramos, o Tanque, acredito na importância da obra como um patrimônio histórico e cultural para a cidade e por estar estampada em um espaço vital para a comunidade como é a biblioteca”, acredita.

A previsão para a finalização da obra na biblioteca é para meados de dezembro. Para conhecer mais sobre o trabalho de Pati Spindler, basta acessar o instagram em @pati.spindler

 

Texto: Fabrício Furtado

Fotos: Ary Barbosa de Jesus Filho

Leia também

Deixe um comentário

1 × dois =