O local foi visitado por governadores, prefeitos, deputados, senadores, celebridades, mas principalmente por pessoas ávidas pela história das suas origens, o público ideal segundo o próprio Danilo
Imagine caminhar pelas ruas da cidade e encontrar um jornal de 1883 e descobrir que esse material se trata do primeiro jornal da sua cidade? Esse fato aconteceu nos meados dos anos de 1930, e o protagonista era um adolescente conhecido por Danilinho, ou, Danilo Thiago de Castro. O velho jornal começou a fazer parte de uma coleção de pedras, utensílios antigos, ninhos de passarinhos e outras coisas que para algumas pessoas poderia ser apenas lixo, mas para o coletor de memórias afetivas, as pedras, bugigangas e papeis eram capítulos incessantes da história de uma cidade única, Lages. “Eu usava um saco de pano para recolher as coisas, ia de casa em casa pedindo por fotos, utensílios, documentos antigos…o que o museu tem, é resultado de doações…”, dizia Danilo para o curta-metragem “Artimanhas da Memória” realizado em 2001.
Em 1943, Danilo, informalmente, passou a receber visitantes para conhecer o acervo que ficava em um dos quartos da sua residência. Somente em 1948 que o trabalho seria reconhecido através de uma visita de uma comissão de vereadores, e, em 9 de junho de 1960 o Prefeito Vidal Ramos Junior declara o Museu Histórico Particular Thiago de Castro de Utilidade Pública, pela Lei nº 281.
O ano de 1960 seria marcado pelas comemorações do centenário de Lages, e o Museu Thiago de Castro estava nos cartazes e publicações de periódicos como parte da programação de atividades alusivas ao aniversário da cidade (25 de maio – data da elevação de Lages como cidade).
Uma exposição montada nas dependências do Clube 14 de Junho na segunda semana de maio de 1960 denotou uma espécie de abertura oficial do Museu Histórico Particular Thiago de Castro. O 23 de maio daquele ano, uma segunda-feira, reuniu políticos, personalidades da cidade, transmissão ao vivo pela Rádio Clube e cobertura do Jornal Correio Lageano para abertura da exposição do museu no clube. Quem foi a responsável pelo desenlace da fita inaugural foi a senhora Rosa Maria de Jesus, de 95 anos de idade.
Em 6 de janeiro de 1962, na rua Hercílio Luz o Museu Histórico Thiago de Castro abre suas portas para atendimento ao público nas terças, quintas e sábados das 12h às 18h.
As décadas foram passando e Danilo continuou o trabalho de coleta de materiais, principalmente arquivos oficiais e documentos históricos referentes a tudo sobre a cidade. O local foi visitado por governadores, prefeitos, deputados, senadores, celebridades, mas principalmente por pessoas ávidas pela história das suas origens, o público ideal segundo o próprio Danilo.
Ao longo dos anos o museu passou por dois fechamentos, entre 1981 e 1984, 1993 e 1996, e em 1996, com a mudança da estrutura do Fórum do prédio em frente ao Hospital Nossa Senhora dos Prazeres para um novo complexo na avenida Belizário Ramos, o Museu Histórico Particular Thiago de Castro passa a ocupar o lugar onde está até hoje.
Em 14 de setembro de 1999, Danilo Thiago de Castro foi homenageado pela Câmara de vereadores de Lages em sessão solene, onde foi apresentado um minidocumentário produzido pela equipe de comunicação da instituição e com apresentação do próprio Danilo. Um trecho do vídeo pode ser acompanhado pelo canal da Fundação Cultural de Lages no YouTube.
Outras produções audiovisuais sobre o Museu Histórico Thiago de Castro que estão disponíveis no YouTube:
Artimanhas da Memória – de Elizabete Neves, roteiro e direção de Isabela Hoffmann, 2001;
Lages em Memórias – de Higor Romagna e Leandra Sartor, 2018;
O Legado De Danilo Thiago De Castro – Museu Histórico Thiago De Castro, O Berço Da História Lageana – curta metragem produzido por servidores e colaboradores do museu, 2019;
Museu Histórico Thiago de Castro – Conhecendo o MHTC, 2020;
Danilo Thiago de Castro e a formação de Lages – 2022 (trecho do vídeo homenagem a Danilo de 1999);
Memória Afetuosa – de Armin Reichert, 2022.
Atualmente, as equipes do museu e da Fundação Cultural de Lages (FCL) dedicam-se aos trabalhos de recatalogação e digitalização do acervo documental, e com o Plano Museológico em fase de implementação.
Segundo o superintendente da FCL, Giba Ronconi, todas as ações de hoje são complementos e extensões do trabalho de Danilo. “Sem o Seu Danilo a memória de Lages praticamente não existiria. Devemos muito a ele e ao seu sonho de mais do que guardar coisas, mas de mostrar partes da nossa história para a comunidade, sempre com o objetivo de levarmos nossas origens cada vez mais longe no tempo, muito além de 80 anos”, comenta.
Texto: Fabrício Furtado
Fotos: Acervo MHTC – recortes das edições do Jornal Correio Lageanos de 28 de maio de 1960, 3 e 13 de janeiro de 1960.