Gado Crioulo Lageano é símbolo histórico e cultural

Por Luiz Del Moura

Lei foi instituída pelo prefeito Ceron e reconhece mais uma marca da nossa cidade e sua história

No dia 9 de outubro, o Prefeito Antonio Ceron assinou a Lei número 4766 que institui o gado da raça Crioula Lageana como símbolo histórico e cultural do município de Lages.

Em 31 de outubro de 2003, foi fundada a Associação Brasileira de Criadores de Bovinos da Raça Crioula Lageana (ABCCL) tendo como integrantes de sua primeira diretoria os senhores Edison Martins, Antônio Camargo, Nelson de Araújo Camargo e Jairo Roberto Duarte.

A formação desta associação é um dos resultados dos estudos sobre a Raça Crioula Lageana iniciados no início da década de 80 pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina).

Alimentos vão muito além da carne bovina, o reconhecimento da qualidade de excelência do leite e seus derivados, como por exemplo os queijos serranos destacam os produtos na preferência de consumidores de todo o mundo.  A crioula lageana é uma das mais antigas do Brasil, sua relevância também está associada à rusticidade. Os enormes chifres medem quase 2 metros de ponta a outra.

Em 2008, o então Ministro da Agricultura assinava a portaria número 1048 que reconhecia a Raça Crioula Lageana e sua Variedade Mocha, onde delega a o Serviço Genealógico Oficial para a ABCCL.

A história do gado crioulo remete à segunda viagem de Cristóvão Colombo em 1493 à América. A partir daí, houve uma dispersão para a América do Sul. Em 1548, os espanhóis introduziram o gado em países como o Peru, partindo para Bolívia, Paraguai e Chile. Também houve outra frente de origem portuguesa, com os primeiros rebanhos em São Vicente em 1533. A história também apresenta o trabalho dos Padres Jesuítas nas campanhas gaúchas.

Em Lages, a presença do gado surge no início do século dezoito com a transferência dos bovinos da Vacaria del Mar para os Campos de Cima da Serra. Os pioneiros Joaquim José Pereira e Antonio José Pereira, das Fazendas Grande e Curitibanos transferiram rebanhos das planícies gaúchas para as primeiras fazendas de Lages.

Segundo o livro “Crioulo Lageano – As Qualidades de um Rústico”, de Vera Maria Villamil Martins, uma das influências históricas foram os tropeiros. “O fluxo constante de tropeiros pelos campos de Lages também deve ter influenciado na formação do gado crioulo lageano, a partir da instalação das primeiras fazendas, visto que eram bons mercadores e certamente foram responsáveis pela introdução de reprodutores trazidos de outras regiões”. Já o gado crioulo aspado só chegou ao século vinte e um devido ao trabalho de Nelson de Araújo Camargo e Antônio Camargo, relata a obra de Villamil.

Um dos organizadores para a fundação da ABCCL, ex-secretário e presidente, o médico veterinário, doutor Edison Martins, um dos autores do livro “Crioulo Lageano”, ressalta que os animais da raça Crioula Lageana representam a primeira atividade econômica da região. “Uma vez que quando os primeiros portugueses ocupantes do território aqui chegaram, encontraram um grande rebanho deixado pelos jesuítas expulsos em decorrência do Tratado de Madri em 1750”. Atualmente Martins atua como ponto focal da ABCCL em projetos de pesquisa e desenvolvimento, com envolvimento de instituições de pesquisa com a Embrapa e Universidades.

Para o prefeito Antonio Ceron, a importância da lei é a obtenção de mais um registro de identidade cultural para Lages. “Importante que nossa comunidade lageana e serrana conheçam mais sobre o gado crioulo lageano. A lei exalta além da excelência da qualidade da raça crioula, mas destaca um contexto histórico na formação da nossa serra”, comenta.

 

Fontes: Livro “Crioulo Lageano – As Qualidade de um Rústico”, organizado por Vera Maria Villamil Martins. Contribuição de Edison Martins;

Fotos: Edison Martins, Alexandre Floriani (Embrapa) e acervo ABCCL

 Texto: Fabrício Furtado

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