O levantamento de preços indica as decisões sobre o uso da terra, ajudando tanto o governo quanto os produtores rurais a tomar decisões com base em informações precisas
O principal objetivo do levantamento dos preços das terras agrícolas é fornecer dados para análises estratégicas que orientem a formulação de políticas públicas voltadas para o setor agropecuário. A valorização das terras também tem um impacto direto no cálculo do Imposto Territorial Rural (ITR), um tributo federal cuja base de cálculo é o valor da terra, e, é obrigatório para propriedades acima de 30 hectares.
Santa Catarina é um estado de grande aptidão agrícola, e isso, afeta diretamente os preços das terras fazendo com que ocorra uma valorização que acompanha a tendência histórica de crescimento. Os dados dos preços mais comuns, máximo e mínimo das terras agrícolas em Santa Catarina são levantados anualmente pelo Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola (Epagri/Cepa) e estão disponíveis nos sites do Observatório Agro Catarinense e do Infoagro.
Conforme a analista de Socioeconomia e Desenvolvimento Rural da Epagri/Cepa, Glaucia Padrão, referente ao ano de 2024, de maneira geral, os preços das classes de terra sofreram elevação. “As regiões que apresentaram maior valorização estão localizadas nas regiões oeste e planalto norte do estado. São regiões fortes na produção de soja o que tende a valorizar as áreas agrícolas. Apesar de o preço da soja ter reduzido entre 2023 e 2024, a escassez de oferta de terra tem segurado os valores nessas regiões”, explica Glaucia.
A analista da Epagri/Cepa explica que a classe de terra de terceira, foi a única que apresentou comportamento diferente com estabilização dos preços depois de anos de crescimento. “A terra de terceira se caracteriza como áreas de topografia acidentada, impróprias à exploração de lavouras temporárias, permanentes e pastagens, em que uma das poucas alternativas de exploração econômica é a implantação de reflorestamento fazendo com que ocorra poucas negociações com esta classe de terra”, destaca Glaucia.
Influência da variação de preços para o agricultor
Os preços das terras em Santa Catarina têm sido fortemente influenciados por dois fatores principais: a demanda por produtos agrícolas e a oferta de terras para a agricultura. Esses elementos estão relacionados às necessidades dos produtores rurais e às mudanças no uso do solo no estado.
A demanda por commodities agrícolas, como soja, milho e trigo, tem sido um dos principais motores por trás da valorização das terras em algumas regiões do estado. Quando a demanda por esses produtos aumenta, seja no mercado interno ou externo, a rentabilidade das culturas se eleva, fazendo com que os preços das terras agrícolas também subam.
Por outro lado, a oferta de terras também tem grande impacto nos preços. Com o crescimento da urbanização no litoral norte do estado e o aumento do turismo rural na serra catarinense, a competição pelo uso da terra tem se intensificado. Essas transformações no uso do solo diminuem a área disponível para a agricultura, pressionando ainda mais os preços. As terras agrícolas se tornam mais escassas, e a demanda crescente faz com que o valor das propriedades suba, refletindo essas mudanças no panorama regional.
Além disso, o arrendamento de terras tem ganhado destaque em Santa Catarina. Dada a predominância da agricultura familiar no estado, o envelhecimento dos produtores rurais e o alto custo de produção de algumas culturas, muitos pequenos agricultores têm optado por arrendar terras em vez de comprá-las. Isso tem gerado um aumento no valor do arrendamento, que acompanha a tendência de valorização das terras para compra.Metodologia
O levantamento é realizado por uma equipe de dez agentes de mercado distribuídos por diversas regiões de Santa Catarina, colaboradores da Epagri. Para garantir a precisão dos dados, pelo menos três informantes-chave são entrevistados em cada município. Esses informantes vêm de áreas como imobiliárias, cartórios de registro de imóveis, sindicatos rurais, escritórios municipais da Epagri e órgãos ligados ao planejamento das prefeituras, proporcionando uma visão detalhada dos preços praticados nas negociações de terras.

Anualmente, a Epagri/Cepa realiza um levantamento abrangente dos preços das terras agrícolas em todos os municípios catarinenses, coletando dados essenciais para o planejamento de políticas públicas e a definição de tributos, como o ITR, de responsabilidade do Governo Federal. O estudo, que abrange até sete classes de terras agrícolas, fornece informações cruciais para o desenvolvimento do setor e o cálculo de impostos sobre a propriedade rural.
As terras são classificadas em até seis categorias: terra de campo nativo, terra de primeira, terra de segunda, terra de terceira (alta declividade), terra de várzea sistematizada e terra para servidão florestal (reserva legal). No entanto, nem todos os municípios possuem todas as classes, pois a disponibilidade depende das características geográficas e da negociação de terras no ano em questão.
No painel Mercado Agropecuário do Observatório Agro Catarinense é possível acessar as informações dos preços das terras de todos os municípios do estado a partir de 2009. A região do oeste catarinense é a que teve uma valorização mais acentuada nos últimos anos, com destaque a Campos Novos. O município pertence à Região Geográfica Intermediária de Chapecó e à Região Geográfica Imediata de Joaçaba-Herval d’Oeste e localiza-se a oeste (370 km) da capital, Florianópolis.
Para a analista da Epagri/Cepa, Glaucia Padrão, essa valorização ocorreu devido ao aumento da produção de soja que aconteceu de forma mais acentuada nos últimos anos, principal grão produzido no Brasil. “Como os preços da terra são indexados, quando há uma valorização dos preços do grão, por exemplo da soja, acaba elevando o preço das terras”, explica Glaucia.