Pecuária lageana evolui por conta da rotação de cultura agrícola

Há uma década, percorria-se longos trechos da Coxilha Rica e, raramente, avistava-se algum rebanho de gado. Lavouras agrícolas, então, não existiam, salvo uma ou outra área de pastagem cultivada. O campo nativo descortinava-se no horizonte, em cenas que lembravam, unicamente, o passado histórico de Lages. Passado esse tempo, a realidade é outra. O gado no pasto e as prósperas lavouras sinalizam uma nova era de desenvolvimento e evolução no campo

Por Luiz Del Moura

Na última década, Lages tem retomado com força o potencial de produção e produtividade do setor pecuário, com ênfase para a pecuária de corte, por conta, basicamente, do sistema rotativo das lavouras: plantio de cereais no verão e de pastagens no inverno. Lavouras de aveia e azevem que irão alimentar o gado no período frio do ano.

Ficou só na lembrança o “tempo das vacas magras”, quando a principal fonte de alimentação do rebanho, ao longo do ano, era, basicamente, o do pasto nativo. E quando se fala em rebanho, engloba-se a criação de cavalos, ovelhas, búfalos e o gado de leite.

Hoje, com a utilização e a evolução das lavouras de pastagens, a média de engorda de gado, especificamente, é de 1.2 cabeça para cada hectare de campo, contraste muito grande com a baixa produtividade da pecuária tradicional, na qual se podia comportar não mais do que 0.4 cabeça de gado por hectare. Ou seja, entre 30 a 40 animais (reses) por cerca de 100 hectares (1 milhão de campo). Agora o pecuarista consegue duplicar e até triplicar a produção, na mesma área de terras.

E mais do que isso, o aumento da produção, devido ao maior número de cabeças de gado por hectare, não é o único fator de mais ganho (lucro) no campo. Soma-se a isso a criação de animais de raça, do “gado precoce”, por exemplo, que pode ser abatido com menos tempo, 18/20 meses. Antes disso, esperava-se três anos, em média, para a engorda e o abate do animais.

“Hoje, tudo isso faz da pecuária lageana, um setor em evolução, onde o ganho em produção e produtividade se deve à eficiência, obtida com mais investimentos e mais trabalho, com a utilização de tecnologia e assessoria técnica adequada. E isso, logicamente, compreende maquinário, adubação e manejos corretos, dentre uma série de fatores determinantes para o sucesso da lavoura de pastagem. Mas além da boa e farta alimentação, o manejo técnico-veterinário do rebanho também é essencial”, destaca o presidente do Sindicato Rural de Lages, Márcio Pamplona.

Pamplona ressalta a atuação das cooperativas e de várias outras empresas privadas como essenciais para o desenvolvimento da agropecuária lageana, neste contexto da rotação de culturas agrícolas, favorecendo sobremaneira a melhoria da alimentação bovina e por consequência a produção e a produtividade pecuária. Além disso, a melhoria dos acessos rodoviários às propriedades rurais facilita as atividades agropecuárias.

O próprio Sindicato Rural de Lages tem sido protagonista nesta nova realidade produtiva, prestando assessoria e acompanhamento técnico e de gerenciamento para mais de 90 propriedades rurais, e qualificando a mão de obra, com cursos técnicos. “Antigamente era mais difícil uma análise técnica de solo, ou do rebanho”, compara Márcio.

Neste contexto, Pamplona refere-se, por exemplo, ao índice de natalidade bovina, que era de 60% e hoje alcança os 90%. Isto significa dizer que de um plantel de 100 vacas, 60 criavam e agora são 90 nascimentos por ano. O manejo técnico do gado influencia neste ganho de produção.

Prefeitura de Lages incentiva a agropecuária

A melhoria dos acessos viários às propriedades rurais e a parceria com órgãos governamentais como a Epagri, na questão da distribuição de calcário, faz parte das ações desenvolvidas pela Prefeitura de Lages, por meio da secretaria municipal de Agricultura e Pesca, para incentivar a produção agropecuária.

O projeto Porteira Adentro permite que a Prefeitura execute obras de patrolamento, cascalhamento e demais melhorias na infraestrutura viária diretamente nas propriedades rurais, facilitando o escoamento da safra agropecuária.

“Programas de incentivo tem possibilitado a entrega de maquinário (tratores e implementos) para as comunidades rurais organizadas, as quais integram produtores da agricultura familiar”, salienta o prefeito Antonio Ceron.

Reformas e construções de novas pontes, melhoramento das estradas vicinais, de um modo geral, além da assessoria técnica em várias questões relacionadas ao dia a dia das atividades agropecuárias, faz parte do cronograma de trabalho da secretaria municipal de Agricultura e Pesca.

Sanidade Animal e Vegetal

Neste horizonte promissor, de evolução e desenvolvimento da pecuária e da agricultura lageana, a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) e a Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (Cidasc) têm sido elementos essenciais. O trabalho desenvolvido pela equipe técnico-gerencial dessas organizações governamentais tem resultado, essencialmente, na qualidade da produção, seja ela animal ou vegetal.

A fiscalização e controle da utilização de sementes e da saúde animal, o assessoramento em relação à preservação do meio ambiente, das fontes e cursos de água, bem como das fontes de água para o consumo humano, faz parte da série de atividades, programas e projetos executados sob a tutela da Epagri e a Cidasc.

O gestor regional da Cidasc em Lages, Diego Gindri, destaca a importância dos cuidados com a sanidade dos rebanhos e também com a qualidade das sementes para a formação das pastagens. “A Cidasc é a empresa pública estadual responsável pela defesa agropecuária, dedicando-se na manutenção do nosso status sanitário e no controle da qualidade das sementes comercializadas em nosso estado”, enfatiza.

“A produção de carnes tem grande importância econômica para a região do planalto serrano. E Lages também tem recebido investimentos em estruturas de abate e beneficiamento de carnes, destacando-se na produção de carnes especiais”, destaca o gestor.

Segundo dados da Cidasc, na região da Amures existe rebanho pecuário (bovinos, bubalinos, caprinos, equinos e ovinos) de quase 680 mil animais, representando 13,4% do rebanho catarinense. Destes animais, 105 mil estão no município de Lages.

Gindri observa que: “O Brasil, tem no agronegócio, um dos seus pilares econômicos. O setor foi responsável, em 2020, por 24,31% do Produto Interno Bruto – PIB brasileiro (CNA; CEPEA, 2021). Em Santa Catarina, no ano de 2020, o valor da produção agropecuária foi de R$40,9 bilhões, e a agropecuária respondeu por 70,2% do valor das exportações catarinenses (Epagri/Cepa, 2021)”.

Texto: Iran Rosa de Moraes

Fotos: Ary Barbosa

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