Até poucos dias atrás, não havia em Santa Catarina uma turma de curso profissionalizante formada integralmente por internos de unidades prisionais. Lages, na Serra catarinense, dá esse primeiro passo no caminho da ressocialização. O projeto educacional que busca formar técnicos em edificações foi idealizado por uma professora da rede estadual de ensino e apoiado pela direção da unidade, pela coordenação regional de educação e pela Justiça, por meio da Vara Regional de Execuções Penais da comarca de Curitibanos.
O pedido para estudar partiu dos próprios internos. Ao todo, serão 25 deles sentados nos bancos escolares para aprender uma profissão e, ao fim de um ano e meio, sair com a chance de retornar à sociedade em condições diferentes das quais ingressaram no sistema prisional.
Com média de idade entre 20 e 30 anos, todos têm o ensino médio e cumprem pena no regime semiaberto, e a maioria trabalha durante o dia. Com esta oportunidade, estarão em 90% do tempo ocupados com atividades laborais e estudo. Para chegar a esse estágio, eles tiveram que apresentar bom comportamento, passar por avaliação e ser selecionados.
Quem iniciou a mobilização para possibilitar a experiência foi a professora Denise Paes, que por ser advogada ouve frequentemente dos internos a solicitação por vagas de trabalho e estudo. Defensora da ressocialização, a docente destaca: “Socialmente há preconceito. A partir do momento que a escola abre as portas para essas pessoas, diz que está disponível e que ressocializar junto à comunidade é plausível.”
O diretor do Presídio Regional de Lages, Gilberto Macedo Laurentino, reforça que Lages é uma das cidades catarinenses que mais trazem retorno social com internos em atividade laboral em órgãos públicos e na iniciativa privada. Agora, a unidade avança na área da educação. “Casar o trabalho e projetos educacionais é a fórmula para oportunizar a essas pessoas o retorno ao convívio social. Acredito que a educação e o conhecimento têm esse poder de fazer com que o ser humano evolua”, frisou.
Para a juíza Ana Cristina de Oliveira Agustini, é fundamental apoiar iniciativas como esta. “Projetos como esse são muito bem-vindos e amplamente incentivados pelo Juízo, porque o objetivo é demonstrar que o preso poderá voltar para a sociedade mais qualificado, com uma forma de pensar diferenciada de quando entrou no cárcere, viabilizando um maior número de oportunidades e uma chance real de ressocialização”, sublinhou.
O coordenador de educação, professor Armando Duarte, fala sobre a importância de uma nova chance. “Sabemos que muitas vezes essas pessoas são discriminadas, mas em nossa escola estão sendo acolhidas e respeitadas. Todos precisam de oportunidade. Nosso lema é educação com amor. Que o pioneirismo de Lages sirva de exemplo para toda Santa Catarina”, salientou.
NCI/TJSC – Serra e Meio-Oeste