A primeira Laçada de Vaca Parada oficial da Festa Nacional do Pinhão foi promovida pelo Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG/SC) e contou com 150 participantes, incluindo crianças com deficiências físicas e intelectuais
Na Praça João Ribeiro, em frente à Catedral Diocesana, uma área coberta abrigava uma das atividades mais tradicionais e antigas do mundo campeiro. Uma competição de vaca parada reuniu aproximadamente 150 participantes, entre crianças e adultos, divididos em seis categorias oficias e mais duas livres.
Esta foi a primeira Laçada de Vaca Parada oficial da Festa Nacional do Pinhão, promovida pelo Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG/SC). Ao final, os primeiros colocados da competição foram premiados com troféus. “O laço de vaca parada é onde tudo inicia, formando grandes laçadores, que darão sequência a esta atividade nos rodeios. Contribui com o desenvolvimento das crianças, e também temos o incentivo à inclusão, com a participação de crianças com deficiências físicas e intelectuais”, afirma Alexandre Senem, juiz oficial e diretor da Comissão de Vaca Parada do MTG de Santa Catarina. Este ano a seleção de Santa Catarina irá representar o Estado no Rodeio Crioulo de Cristalina, no Estado de Goiás, que reúne os melhores laçadores do Brasil.
A abertura da vaca parada contou com uma categoria especial, com inclusão social e a participação de crianças portadoras de deficiências físicas e intelectuais. Dando exemplo de superação, as crianças venceram o medo, as dificuldades motoras e se desafiaram, provando que não há limites para quem tem vontade, emocionando as famílias e o público presente.
Enzo, considerado um milagre pela família, dá exemplo de superação
Um dos participantes da Vaca Parada da Festa Nacional do Pinhão foi Enzo Osmar Schmidt, de seis anos, acometido pela Mielomeningocele, uma malformação congênita que ocorre quando a medula espinhal não se desenvolve adequadamente durante a gravidez.
Devido a esta doença, Enzo tem complicações na coordenação motora e sensorial. Antes mesmo de nascer, o feto também foi diagnosticado com microcefalia, o que foi amenizado com uma cirurgia enquanto ele ainda estava no útero, conforme conta a mãe Roberta Schimidt. “Sempre digo que o Enzo é o nosso milagre. Muitos médicos me falaram que seria melhor eu abortar, porque o caso era muito grave. Mas segui em frente, com muita fé em Deus, e hoje ele está aqui, nos dando tantas alegrias e superando cada dificuldade”, conta a mãe.
A família faz parte do CTG Porteira do Rancho de Tábuas, do interior do município, e sempre participou das atividades, que acontecem todo final de semana, principalmente no verão. A mãe de Enzo viu ali uma possibilidade de estimular o desenvolvimento motor e intelectual do filho. “Ele começou, quando muito pequeno, a andar no cavalinho upa-upa, aquele de borracha, um brinquedo muito conhecido das crianças. Depois foi para um de madeira, um pouco maior, depois no andador até conseguir participar da vaca parada. Este ano ele vai representar nosso Estado no rodeio de Cristalina, em Goiás, e isso para nós é motivo de muito orgulho”, comemora Roberta.
Gosto pelo laço quebra as barreiras do autismo
Ana Paula Brochveld, mãe de Heitor, de oito anos, diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista, também encontrou nas atividades tradicionalistas uma forma de incluir e ajudar o filho a desenvolver-se. A família faz parte do CTG Alma Serrana, de Lages. Uma geração inteira de tradicionalistas, que vão passando de pai para filho o gosto pelo laço e os rodeios.
Aos poucos, Heitor foi inserido pela mãe nas atividades, junto dos irmãos mais velhos. O irmão, com 18 anos, é bicampeão brasileiro de laçada e também foi cinco vezes campeão de Santa Catarina, participando de competições em Mato Grosso do Sul e Goiás, para competir na etapa nacional.
Enzo, percebendo as aptidões dos irmãos, foi pegando gosto pelo laço e se familiarizando com o mundo dos rodeios. “Levávamos ele desde muito pequeno, mas tudo precisa ser no seu tempo, pois dependendo do ambiente não se adapta muito bem, algumas roupas específicas ele não aceita vestir, mas com muita paciência e persistência hoje ele voltou a participar e está se desenvolvendo muito bem, e o melhor de tudo, gostando do que faz. A gente traz um abafador de ouvido, devido ao barulho em excesso, e tomamos alguns cuidados. As laçadas ajudaram muito na coordenação motora dele, que antes era limitada. Agora consegue fazer o boleio do laço e marcar”, conta a mãe.
Texto: Aline Tives
Fotos: Fábio Pavan
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