Você já ouviu falar nas Plantas Alimentícias Não Convencionais, mais popularmente conhecidas como PANCs? O Brasil detém uma das maiores biodiversidade vegetal do mundo e muitas dessas espécies apresentam um grande potencial alimentício. No entanto, estima-se que menos de 10% delas são utilizadas.
Como forma de disseminar e estimular o consumo destas plantas tão nutritivas e pouco conhecidas, a Secretaria da Agricultura e Pesca de Lages, em parceria com a Secretaria da Educação, está desenvolvendo um projeto de plantio nas hortas escolares. Por enquanto estão sendo produzidas três espécies: ora-pro-nóbis, peixinho-da-horta e a capuchinha.
A produção inicia no Horto Municipal, localizado no bairro Guarujá, e de lá são transferidas para as hortas escolares. “Nosso projeto tem o objetivo de instigar as crianças a conhecer e passar a consumir este tipo de planta que irá agregar tanto valor nutricional a sua alimentação. Através delas também o conhecimento sobre as PANCs chegará até as famílias, disseminando cada vez mais o cultivo e consumo”, destaca o secretário da Agricultura e Pesca, Thiago Cordeiro.
A princípio seis escolas municipais estão inseridas no projeto piloto, sendo quatro Centros de Educação Infantil (Ceims) e duas Escolas Municipais de Educação Básica (Emebs). A ideia é ir, aos poucos, aumentando a produção de mudas e levar as PANCs para a maioria das escolas.
Comunidade escolar será capacitada
Nesta semana as nutricionistas da Secretaria da Educação, Anna Myrelle Pinheiro de Araujo e Crislaine Pereira, passarão nas escolas para orientar a comunidade escolar sobre como utilizar essas plantas na alimentação das crianças, seja em refogados ou saladas. “A ora-pro-nóbis, que vem se destacando nos últimos anos pela grande quantidade de proteína e ferro, sendo conhecida popularmente por ‘carne de pobre’”, comenta Anna Myrelle.
A ideia é capacitar os professores de sustentabilidade, através de um curso ministrado em parceira também com a Epagri. Os professores têm contato direto com os alunos, por isso serão eles que passarão o conhecimento sobre a importância nutricional, ecológica e o manuseio destes alimentos. As merendeiras também serão capacitadas, para que além deste conhecimento, aprendam como incluir as PANCs na alimentação escolar.
Resgate e valorização nutricional
O técnico agrícola do Horto, Mayckon Pena Bizotto, explica que o projeto se trata de um trabalho de resgate dessas plantas. “Recolhemos as plantas que vamos encontrando em nossas caminhadas e trazemos até o horto para que sejam multiplicadas e depois distribuídas nas escolas. É um processo demorado, mas muito gratificante. Cada muda leva em média dois a três meses para ficar num ponto possível de ser levada para a escola e replantada nas hortas”, comenta.
Na questão do sabor, as PANCs vêm sendo muito bem aceitas pelo paladar dos brasileiros. O peixinho-da-horta ganhou este nome justamente por ter um sabor característico. As folhas podem ser empanadas no ovo e na farinha e fritas, assim como um filé de peixe. A ora-pro-nóbis, ao ser refogada, tem um sabor parecido com o da couve-manteiga, muito agradável ao paladar. Também pode ser consumida em forma de salada ou no preparo de carnes, agregando sabor.
Já a capuchinha tem um sabor marcante, voltado para o picante, similar ao agrião, sendo consumida como salada ou após ser salteada em um refogado. Suas flores de coloração avermelhada também são comestíveis e perfeitas para enfeitar pratos mais elaborados ou ornamentais.“Em muitas ocasiões as PANCs, como a ora-pro-nóbis que é uma espécie nativa, eram consideradas um inço e ninguém dava muita importância. As pessoas pisam em cima delas e não sabem o valor nutricional que tem, com muitas vitaminas, fibras, sais minerais e compostas por proteínas”, diz Mayckon.
O que são Plantas Alimentícias Não Convencionais?
PANCs (Plantas Alimentícias Não Convencionais) é o termo usado para plantas ou parte de plantas comestíveis, mas que não tem seu consumo habitual em uma região, por isso muitas vezes são consideradas ervas daninhas ou mato. Muitas destas plantas já foram consumidas por pessoas mais antigas, mas devido ao avanço da tecnologia agrícola, seu consumo foi perdido com o tempo. Estas plantas possuem um ótimo valor nutricional, sendo ricas em vitaminas, minerais, fibras, além de apresentar propriedades terapêuticas, por exemplo.
Texto: Aline Tives/Fotos: Aline Borba