O fenômeno de crianças e pré-adolescentes utilizando produtos de skincare formulados para adultos tem ganhado destaque nas redes sociais, muitas vezes incentivado por influenciadores digitais e padrões de beleza irreais. Especialistas alertam que essa prática pode trazer consequências sérias para a saúde e o desenvolvimento infantil.
A Dra. Débora Cadore, dermatologista, especialista em Medicina Capilar, Terapias Regenerativas e Gerenciamento do Envelhecimento, fundadora da Cadore Clínica Dermatológica, em Florianópolis, explica que o uso de produtos adultos na infância é preocupante. “É claro que existem cuidados que podem e devem ser adotados desde cedo, como filtro solar, repelentes e hidratantes específicos para crianças. Mas produtos com disruptores endócrinos e alérgenos aumentam o risco de alterações hormonais, puberdade precoce, problemas de fertilidade e alergias de pele no futuro”, alerta.
Por que a pele das crianças é mais vulnerável
A pele infantil possui características próprias que a tornam mais sensível do que a dos adultos. Por ser mais fina, ela absorve substâncias químicas com maior facilidade. “Muitas das substâncias presentes em produtos adultos podem causar alterações hormonais e alergias em maior proporção do que nos adultos”, destaca a especialista.
Entre os componentes que representam maior risco estão conservantes como parabenos, que podem mimetizar estrogênios; filtros solares químicos, como benzofenonas, que possuem atividade estrogênica e antiandrogênica; e plastificantes ou solventes, como ftalatos, presentes em fragrâncias e esmaltes, associados a alterações reprodutivas. Produtos anti-idade ou com retinol e ácidos, embora não acelerem o envelhecimento da pele, ainda são desaconselhados para crianças devido ao risco de irritação e absorção de substâncias hormonais.
Riscos imediatos e a longo prazo
O uso contínuo de cosméticos adultos pode gerar efeitos imediatos, como irritações e alergias, e consequências a longo prazo. “Puberdade precoce, alterações no eixo hormonal e na capacidade reprodutiva estão entre os principais riscos. Além disso, quanto maior a exposição a alérgenos, maior a chance de desenvolver alergias futuras”, explica Dra. Débora.
O impacto emocional também merece atenção. Muitos padrões de beleza vistos em redes sociais são baseados em filtros ou maquiagem, criando ideais inatingíveis que podem gerar ansiedade e frustração em crianças e pré-adolescentes.
Cuidados básicos e seguros para crianças
Para crianças e pré-adolescentes, a recomendação é clara: fotoprotetor específico para a idade, repelentes adequados e hidratante quando necessário. O problema surge quando a exposição a cosméticos adultos se torna contínua.
No caso de pré-adolescentes com dermatoses como acne, a especialista recomenda avaliação individualizada por um dermatologista. Produtos mais específicos, como sabonetes para pele oleosa, devem ser introduzidos somente sob orientação profissional e conforme a necessidade da pele.
Pais e responsáveis também devem observar sinais de reação adversa, como coceira, vermelhidão ou descamação. “Em muitos casos, alterações hormonais não apresentam sinais visíveis, por isso a prevenção é ainda mais importante”, completa Débora Cadore.
Educação e diálogo: prevenção é o melhor caminho
Mais eficaz do que proibir, é manter uma comunicação aberta com as crianças. “Converse com elas, entenda a motivação do interesse por skincare. Muitas vezes, buscam um ideal de beleza inatingível. Explique que haverá tempo suficiente para esse tipo de preocupação mais adiante e que o excesso pode trazer problemas sérios”, orienta a dermatologista.
O acompanhamento médico garante segurança e orienta o uso correto de produtos conforme a necessidade individual. “Se houver alguma questão na pele, leve a criança a um dermatologista — é o profissional capacitado a prescrever produtos eficazes e seguros.”
Quando procurar um dermatologista
O cuidado com a pele é importante, mas precisa ser orientado por quem entende do assunto. Segundo a especialista, é possível conscientizar os jovens sem alarmismo. “O cuidado com a pele é importante, afinal, ela é o maior órgão do corpo, mas precisa ser orientado por quem entende do assunto: o médico dermatologista. O que parece inofensivo hoje pode trazer consequências futuras”, reforça.
Débora Cadore é médica dermatologista, CEO e diretora técnica da Cadore Clínica Dermatológica, localizada na Casa Hercílio Luz (Acesso pelo Pátio Milano, bloco 3 – av. Mauro Ramos, 1512), Centro, Florianópolis. É graduada pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), possui especialização em Dermatologia pela Santa Casa de São Paulo e em Oncologia Cutânea pelo A.C.Camargo Cancer Center. É especialista em Medicina Capilar, Terapias Regenerativas e Gerenciamento do Envelhecimento.
Realizou fellowships internacionais em cabelos, unhas, dermatoscopia digital e microscopia confocal na Università di Bologna e na University of Miami, além da University of Modena and Reggio Emilia, na Itália. Atua como preceptora da residência médica em dermatologia no Ambulatório de Cabelos e Unhas da UFSC.
É membro titular da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e integra sociedades científicas internacionais como a International Dermoscopy Society, International Trichoscopy Society, American Hair Research Society, European Hair Research Society e o Council for Nail Disorders.
Débora também é autora de capítulos de livros e artigos científicos em publicações nacionais e internacionais, além de palestrante em congressos médicos no Brasil e no exterior.