Catedral Diocesana de Lages passa por fase crucial de diagnóstico para projeto de restauração completa

Por Luiz Del Moura

Mapeamento técnico de danos, análises estruturais e levantamento pictórico marcam nova fase da conservação do principal símbolo histórico de Lages

A Catedral Diocesana Nossa Senhora dos Prazeres, em Lages, está passando por uma fase crucial de diagnóstico técnico que irá embasar o projeto de restauração completa da edificação, cuja última grande reforma foi iniciada em 1995 e concluída em 2002. O trabalho é conduzido por uma equipe multidisciplinar de especialistas, com destaque para as arquitetas e professoras universitárias, Gessica Coelho, da Universidade do Planalto Catarinense (Uniplac), e Kassia Zanchett, da Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc), integrantes do coletivo “Memórias que Habitamos”.

O grupo já realizou ações significativas de preservação no Estado, como o projeto de restauração da Prefeitura Municipal de Lages, a legislação para bens tombados em Iomerê, o projeto de restauro da Igreja de Vargem, a cartilha do patrimônio arquitetônico de Lages e o mapa ilustrado do patrimônio arquitetônico de Lages, distribuídos nas escolas, gratuitamente. Gessica fez sua dissertação de mestrado com o tema “ENTRE PRAÇAS: Narrativas socioespaciais e os vestígios do tempo em Lages-SC”, levando em consideração elementos históricos e culturais da cidade.

Nesta semana está em andamento um amplo mapeamento de danos na estrutura da Catedral, incluindo fissuras, trincas, umidade e desgaste dos vitrais. Também está em elaboração uma prospecção pictórica para identificar as camadas de pintura ao longo do tempo e determinar quais tintas e cores foram utilizadas nas diferentes fases da história da Catedral.

Segundo as arquitetas, o trabalho está em fase de diagnóstico e deve ser finalizado até agosto deste ano. “Visualizamos a falta de alguns fragmentos e trechos nos vitrais. Temos a preocupação com o ‘falso histórico’, não podemos simplesmente inventar algo do nada. A discussão com o grupo será para definir a melhor estratégia de restauração, suprindo o dano, sem criar elementos que nunca existiram”, explica a arquiteta Gessica Coelho.

A análise da estrutura das torres, que recentemente sofreu desprendimento de parte do revestimento de arenito, é uma das etapas mais delicadas do diagnóstico. O incidente, ocorrido no dia 13 de janeiro deste ano, levou à interdição parcial da calçada e da rua Frei Gabriel. A área foi sinalizada e cercada com tapumes, com mão de obra fornecida pela Prefeitura de Lages e materiais custeados pela própria Catedral.

De acordo com a arquiteta Kassia Zanchett, o uso do arenito, pedra original da construção, é um facilitador no processo de restauração. “A Catedral foi construída com arenito, pedra que ainda é abundante na região. Desta forma, conseguimos repor, se necessário, com o mesmo material pelo qual a edificação foi construída originalmente”, destaca.

O projeto de restauração inclui levantamento interno e externo com tecnologias de ponta, como laser scanner e aerofotogrametria. A execução está a cargo de três frentes profissionais:

  • Cassandra Melo Oliveira, responsável pelo levantamento tridimensional da Catedral
  • Steincorp Engenharia, encarregada da vistoria técnica e laudo estrutural
  • Coletivo Memórias que Habitamos, que elabora o projeto completo de restauração

O valor total do projeto é de R$ 176.484,21 e de responsabilidade da Paróquia Nossa Senhora dos Prazeres – Catedral Diocesana. “Neste momento, inclusive pela questão dos prazos, optamos por não recorrer a subvenções oriundas de Fundos Públicos de Leis de Incentivo à Cultura. Certamente, tendo em vista os valores elevados para a execução dos trabalhos de restauração, recorreremos a tais recursos, através dos meios legais e eficazes”, informa a Paróquia Nossa Senhora dos Prazeres, por meio de nota em suas redes sociais.

A superintendente da Fundação Cultural de Lages (FCL), Carla Zonatto, salienta o papel da FCL como parceira institucional do projeto. “Preservar a Catedral é preservar a alma da cidade. O restauro é essencial para manter viva a nossa história, e a FCL está comprometida com esta missão, apoiando técnica e institucionalmente os trabalhos no que for preciso”, finaliza.

A Catedral, construída entre 1912 e 1922 e elevada a esta categoria em 1929, é o principal patrimônio arquitetônico de Lages. Seus sinos vieram da Alemanha e levaram seis meses para chegar ao Brasil. O edifício é símbolo da identidade cultural lageana, com valor inestimável para a população local. A restauração de uma edificação não é apenas uma questão estética, é um compromisso com a memória coletiva e com a identidade cultural.

A expectativa é que o projeto final seja concluído e entregue à Mitra Diocesana, entidade jurídica civil que representa a Diocese de Lages, até o fim deste ano de 2025. A decisão sobre a necessidade de fechamento da Catedral para as obras será tomada após a conclusão do diagnóstico técnico.

Na sequência, outros patrimônios históricos de Lages também passarão por projetos de restauração, como o Casarão Juca Antunes, que já está na pauta da Fundação Cultural de Lages, reforçando o compromisso da cidade com a preservação do seu legado arquitetônico e histórico.

Texto: Rafael Araldi

Fotos: Rafael Araldi e Fábio Pavan

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