Fazer vinho não basta mais: Simpósio Catarinense discute inovação e mercado para melhor posicionar os Vinhos de Altitude no cenário brasileiro

Com consumo em expansão e público mais exigente, especialistas apontam que o futuro da vitivinicultura depende de estratégia, identidade e experiência, e a Serra Catarinense quer participar desse movimento

Por Claudio Santos

A sétima edição do Simpósio Catarinense Vinhos de Altitude reuniu cerca de 120 participantes na quinta-feira (23), na Casa da Cultura de São Joaquim (SC).. Consolidado como um dos principais encontros técnicos da vitivinicultura catarinense, o evento destacou as tendências de consumo, estratégias de comercialização, manejo e o posicionamento dos vinhos de altitude no cenário nacional e internacional. Organizado pela Associação Vinhos de Altitude de Santa Catarina e pelo Sebrae/SC, com apoio da Prefeitura de São Joaquim, o simpósio reforçou o papel do vinho como vetor de desenvolvimento econômico e turístico, unindo ciência, inovação e identidade em uma programação que conectou campo, mercado e experiência enoturística.

Dados divulgados pela consultoria Grand View Research, o mercado brasileiro de vinhos movimentou cerca de US$ 13,3 bilhões em 2024 e deve atingir US$ 22,2 bilhões até 2030, com crescimento médio anual de 9,1%. O consumo per capita no país ainda é modesto, 2,7 litros por ano, em média , o que indica grande potencial de expansão, tanto pela ampliação da base de consumidores quanto pela valorização de rótulos premium e de identidade territorial.

Nesse cenário, os Vinhos de Altitude de Santa Catarina se destacam por combinar autenticidade, terroir diferenciado e sustentabilidade, inserindo-se em um mercado que busca cada vez mais histórias, experiências e qualidade. Mais do que produzir bons vinhos, o desafio agora é posicionar marcas, agregar valor e criar conexão com o consumidor, temas que estiveram no centro das discussões do simpósio.

“Fazer vinho” não basta mais

Com mais de 20 anos de atuação no setor, o consultor e mentor Diego Bertolini trouxe uma das palestras mais aguardadas do dia, com o tema “Panorama do vinho no Brasil: a verdade nua e crua e como ampliar as vendas da sua vinícola”. Ele apresentou uma visão realista sobre o mercado e defendeu que o consumo de vinho no país vive um momento de transformação. “O vinho está deixando de ser uma bebida apenas de ocasião especial e passa a integrar o cotidiano de mais brasileiros. A participação crescente dos jovens, a valorização dos rótulos nacionais e o crescimento dos espumantes moscatéis são sinais claros dessa mudança”, afirmou.

Bertolini ressaltou que o desafio das vinícolas vai além da produção, é preciso entender o consumidor, comunicar propósito e transformar a experiência em valor de marca. “Não basta fazer vinho, é preciso atuar estrategicamente, compreender tendências, contar a história por trás da garrafa, estruturar canais de venda e viver o vinho como experiência. Quando isso acontece, o mercado se amplia e o crescimento é sustentável”, completou.

Sua abordagem reforçou a conexão entre qualidade de produção e acesso ao mercado, essencial para regiões emergentes como a Serra Catarinense, que busca ganhar escala sem abrir mão de sua identidade.
Um setor construído em colaboração

A diretora técnica da associação, enóloga Betina de Bem, reforçou o papel do evento como um catalisador de conhecimento e união. “O simpósio é um espaço de fortalecimento e conexão. Reunir especialistas, produtores e instituições é essencial para manter o padrão de qualidade dos Vinhos de Altitude e seguir avançando em inovação, sustentabilidade e reconhecimento da nossa identidade vitivinícola.”

O Sebrae/SC também destacou o impacto da vitivinicultura na economia regional. Segundo o gerente regional do Sebrae/SC na Serra Catarinense, Altenir Agostini, o setor tem gerado efeitos concretos em diversas frentes:
“Seu impacto é tangível no movimento econômico, na criação e desenvolvimento de atrativos turísticos, nos produtos de Indicação Geográfica, na gastronomia, na visibilidade e na valorização do território.”

O protagonismo local foi pontuado pela secretária de Turismo de São Joaquim, Noeli Tomé. “Temos em São Joaquim a maior concentração de vinícolas do estado. Seguimos trabalhando para que turismo e vitivinicultura caminhem lado a lado, impulsionando a economia e consolidando nossa cidade como referência nacional em enoturismo.”

A programação trouxe especialistas de diferentes regiões do país. O pesquisador Itamar Bonetti, referência na área, apresentou “Novos fungicidas no controle das doenças da videira”, destacando avanços que impactam diretamente na qualidade das uvas e dos vinhos. “A saúde da planta é o ponto de partida para a excelência. O manejo correto garante equilíbrio, expressão aromática e autenticidade ao produto final.”

De Minas Gerais, a enóloga Isabela Peregrino compartilhou a palestra “Práticas enológicas nas diferentes realidades vitícolas de Minas Gerais”, trazendo comparativos técnicos que podem inspirar melhorias para o terroir catarinense. O engenheiro agrônomo Matheus Cassimiro Alves, do Grupo Vitácea Brasil, falou sobre “A revolução da viticultura de inverno no Sudeste e Centro-Oeste”, tecnologia que permite ampliar o calendário produtivo e fortalecer regiões emergentes. “As Indicações Geográficas são impulsionadoras dos pólos vitivinícolas. Elas valorizam origem e identidade, fortalecendo toda a cadeia, da produção ao mercado”, ressaltou.

O enólogo Abel Miotto Lisboa, da Amazon Grupo, em parceria com a fabricante francesa Nadalie, apresentou “A arte do envelhecimento de vinhos em barricas de carvalho”, explorando como o uso adequado das barricas agrega complexidade e sofisticação aos vinhos de altitude. Na palestra O turismo de experiência enogastronômico na Serra Catarinense – a grande virada de chave, o chef Victor Branco, mostrou como gastronomia e vivência autêntica transformam o enoturismo em uma ferramenta de identidade regional.

O simpósio encerrou com um brinde coletivo dos Vinhos de Altitude de Santa Catarina, seguido de um coquetel exclusivo para os participantes, um gesto simbólico de celebração e união do setor. “O simpósio reafirma o compromisso da vitivinicultura da Serra com a qualidade, a inovação e o fortalecimento do enoturismo. Essa integração é o que permite fazer melhor, e levar nossos vinhos, já reconhecidos internacionalmente, ainda mais longe”, concluiu Antônio Marcos Pagani de Souza, vice-presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae/SC.

Por Catarinas Comunicação || Texto Lizzi Borges || Fotos Jair Sena

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