CAV Lages realizará testes de vacina inédita no mundo contra toxoplasmose felina

Por Claudio Santos

O Laboratório de Parasitologia e Doenças Parasitárias (Lapar), no Centro de Ciências Agroveterinárias (CAV) da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) em Lages, realizará a avaliação de uma vacina inédita contra a toxoplasmose felina, doença para qual ainda não há imunizante.

Os protocolos para o teste de eficácia da vacina foram delineados pelo professor Andreas Lazaros Chryssafidis, do Departamento de Medicina Veterinária, que está conduzindo o estudo junto com sua equipe do Lapar. A pesquisa é patrocinada pela empresa francesa Vaxinano, desenvolvedora do imunizante e vinculada à Universidade de Lille, na França.

A empresa financiou a instalação da unidade experimental e a execução do projeto, incluindo bolsa de iniciação científica para alunos de graduação em Medicina Veterinária da Udesc Lages, um investimento de cerca de R$ 160 mil. Os testes devem cameçar assim que a primeira remessa de vacinas chegar ao Brasil.

O estudo é pioneiro na Udesc, em todo o país e no mundo. “De acordo com o próprio Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, nunca houve este tipo de parceria no Brasil. É a primeira vez que uma empresa europeia financia uma universidade pública brasileira para realizar o teste de eficácia de uma vacina experimental”, afirma Chryssafidis.

Professor Andreas Chryssafidis conduzirá testes junto com a equipe do Lapar – Foto: Fabrício Camargo

Estudos de eficácia

O professor Andreas tem vasta experiência na elaboração e execução de estudos de eficácia e, na Europa, prestava serviço para diferentes companhias da indústria farmacêutica. O desenvolvimento da vacina foi chefiado pelo professor Didier Betbeder, presidente da Vaxinano e cientista com longa carreira em pesquisas com adjuvantes vacinais baseados em nanotecnologia.

No Lapar, os testes para comprovar a eficácia do imunizante devem levar de um a dois anos. “É muito importante a Udesc estar participando desse desenvolvimento”, avalia Chryssafidis. “No futuro, poderemos desenvolver muitas coisas juntos. Esse projeto é só uma semente”, afirma.

Os estudos terão a participação de todo o grupo de pesquisa do Lapar, incluindo professores, estudantes de graduação, mestrado e doutorado. “A interação entre a iniciativa privada e a universidade pública é fundamental para o desenvolvimento da pesquisa e para que a ciência aconteça”, avalia o professor.

Não só o convênio estabelecido entre a Udesc e a empresa francesa é inédito. O imunizante que será testado foi desenvolvido em forma de spray intranasal, mais uma inovação da pesquisa. “O objetivo da vacina é estimular a memória imune celular das mucosas dos felinos para reduzir ou impedir a eliminação de oocistos nas fezes, quebrando a cadeia de transmissão do Toxoplasma gondii”, explica Chryssafidis.

Importância epidemiológica

A toxoplasmose é uma doença que pode gerar graves complicações na saúde animal e humana, principalmente em gestantes e em indivíduos com o sistema imunológico debilitado. A doença é causada pelo protozoário Toxoplasma gondii, que pode ser encontrado nas fezes de gatos e outros felinos. “Mas, deve-se enfatizar que os gatos só eliminam o agente uma vez na vida e os oocistos levam pelo menos dois dias no ambiente para se tornar infectante. Então, a limpeza diária da caixa de areia dos gatos, praticamente, elimina o problema dentro de casa”, alerta o professor.

Quando os gatos são infectados pelo parasito pela primeira vez na vida, acabam eliminando oocistos nas fezes, que se espalham pelo meio ambiente e podem infectar diferentes espécies animais. Após o período inicial da infecção, o parasito entra em um estado de dormência, alojando-se por todo o corpo dos animais infectados.

“Essa é a parasitose considerada de maior sucesso no mundo porque onde há animais de sangue quente há Toxoplasma gondii”, explica Chryssafidis. O maior risco de transmissão para seres humanos é, justamente, a ingestão de carne contaminada crua ou mal passada, principalmente de animais de caça, pequenos ruminantes e suínos. “Com a quebra dessa cadeia de transmissão, tanto a saúde animal quanto a humana ficarão protegidas”, conclui o pesquisador.

Tatiane Rosa Machado da Silva – Foto: Ricardo Wolffenbüttel / Secom

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