A comarca de Lages registrou, entre 2020 e 2021, o encaminhamento de 32 crianças e adolescentes para uma nova família. Nesses dois anos, o número de adoções manteve-se estável. Foram nove processos em 2020 e mais oito no ano passado. A Vara da Infância e Juventude e o setor de Serviço Social comemoram os números porque, nesse período, foram expressivos os casos de adoção de grupos de irmãos. Além disso, destacam, outro fato que surpreendeu por ser incomum foi a disponibilidade dos pretendentes em adotar crianças com algum tipo de doença.
Geralmente, atestam, os perfis traçados por quem adota não contemplam essa condição. Um dos pequenos adotados tem fibrose cística, uma doença genética crônica que afeta principalmente os pulmões, pâncreas e o sistema digestivo. Outro nasceu com um raro distúrbio neurológico no qual o cérebro não se desenvolve completamente, chamado microcefalia.
Tipo de adoção igualmente difícil de acontecer, Lages registrou também um caso na modalidade inter-racial no ano passado. Um casal formado por pessoas brancas quis aumentar a família e deu à filha mais velha, adotada há 11 anos, dois irmãos negros. As crianças maiores também têm dificuldade de encontrar um lar. Em duas adoções no ano passado, três se integraram a novas famílias, com 11, 10 e oito anos de idade.
As assistentes sociais forenses destacam que a adoção inter-racial ocorreu no mesmo ano em que o casal foi habilitado. “Isso ocorre justamente pela amplitude do perfil desejado pelos pais. Infelizmente, as pessoas ainda querem bebês com até três anos, brancos, saudáveis e sem irmãos. Por isso, algumas pessoas ficam anos na fila até a chegada de um filho. Uma realidade que não se restringe apenas à nossa região. É uma questão enfrentada no país inteiro”, frisam.
Com a pandemia, alguns procedimentos tiveram que ser readequados, como o curso de preparação para os pretendentes a adoção, que passou a ser feito on-line e assim deve permanecer enquanto a crise sanitária não passar. A fase de aproximação também ganhou reforço com as ferramentas digitais. Telefonemas e chamadas de vídeos, que já ocorriam antes da pandemia, passaram a ser mais frequentes. “Esse formato foi muito útil e importante, mas nada substitui o olho no olho entre eles”, dizem. Antes do contato presencial, as servidoras exigem a apresentação de testes negativos para o coronavírus. O ano de 2022, aliás, começa com um adolescente e um grupo de três irmãos acolhidos em instituições na esperança de também poderem fazer parte de uma nova família.
Taina Borges – NCI/TJSC – Serra e Meio-Oeste