Pesquisa inédita aponta evasão e abandono escolar durante a pandemia

Por Luiz Del Moura

Mais de 8.700 estudantes abandonaram as aulas neste ano, de um total de 688.684 matriculados em 2020 em todos os níveis nas redes municipais. Se forem somadas as evasões durante a pandemia de Covid-19, o número aumenta para 13.700 alunos. A pesquisa inédita, realizada nos 295 municípios catarinenses em outubro, mostrou os números de evasão e abandono escolar de estudantes desde o ensino básico ao médio, além dos da educação de jovens e adultos (EJA), durante a pandemia em relação às matrículas efetivadas no início de 2020.

O levantamento completo foi apresentado pelo auditor fiscal de controle externo do Tribunal de Contas de Santa Catarina  (TCE) Paulo Douglas Tefili, durante a reunião do Grupo de Trabalho (GT)  nesta segunda-feira (13), da Comissão em Defesa dos Direitos da Criança e Adolescente da Alesc, presidida pela deputada Marlene Fengler (PSD). O coordenador do Projeto TCE Educação, Gerson dos Santos Sicca, destacou antes da apresentação que em nenhum estado brasileiro foi realizada pesquisa semelhante com atualidade e precisão de dados.

A pesquisa revelou que 11,8% dos alunos do ensino médio abandonaram as aulas, além de 9% no EJA e 3,8% nas creches. Em números absolutos, porém, o abandono nas creches atingiu 2.261 crianças, quase três vezes mais do que a soma de evadidos do ensino médio e do EJA, de 823. O fechamento das creches durante os meses da pandemia é apontado como um provável fator pela desistência das famílias em manter os filhos nas unidades, consideram os autores da pesquisa: Ministério Público, Undime e TCE.

Além dos números de evasão e abandono, o levantamento indicou quantos e quais municípios estão realizando busca ativa para identificar se os alunos evadidos se transferiram para a rede estadual ou privada ou se realmente abandonaram os estudos. Outro aspecto abordado na pesquisa busca identificar o retorno total das atividades presenciais e as ações desenvolvidas pelos gestores para recuperar as perdas de aprendizagem. Dos 295 municípios, em 199 os estudantes estão tendo recuperação no contraturno e em apenas 25 foi informado que o reforço ainda está sendo oferecido na modalidade virtual. E em 244 as aulas estão sendo presenciais em todas as escolas.

Ao comentar os dados, a deputada Marlene ressaltou a importância do diagnóstico como uma ferramenta que ajudará gestores públicos, municipais e estaduais, a definirem ações de fortalecimento da busca ativa e, especialmente, de recuperação da aprendizagem perdida durante a pandemia. Na opinião da parlamentar, as ações desenvolvidas por alguns municípios podem ser replicadas onde a busca ativa ou a recuperação de conteúdos estão defasadas. “É um trabalho fantástico, revelador, e vai ajudar muito na definição de ações e caminhos para a volta das crianças às salas de aulas no próximo ano letivo e na recuperação das perdas desses dois anos de pandemia”, diz.

No entendimento dela, o diagnóstico aponta para uma situação grave, mas ao mesmo tempo serve de base para ações efetivas no resgate aos estudantes evadidos e na recuperação da aprendizagem. Marlene também sugeriu que a Secretaria de Estado da Educação apresente, até o final do ano, levantamento sobre a evasão e abandono registrados na rede pública de ensino desde 2020, e as ações desenvolvidas para conter e reverter os casos.

O promotor de Justiça João Luiz de Carvalho Botega, coordenador do Centro de Apoio da Infância e Juventude do Ministério Público, disse ao grupo que, com base na pesquisa, o MP está elaborando uma normativa, como apoio de outras instituições e órgãos, que deverá ser cumprida em todos os municípios orientando para a reabertura total das escolas e com sugestões de ações para resgate de alunos evadidos e recuperação de aprendizagem.

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